No centro do Isolamento
Quarta-feira, 20 de Julho de 2005
(Ensaio - Poema)
Este espaço-ser que somos
O espaço que molda nosso corpo
Por todas as partículas que o compõe
Corre e sente por entre túneis negros de sentimentos
Viveres e risos
Graças e juízos
Túneis escuros claros
Tecto azul, negro e branco.
Correm os pedaços de nós
Velozes
Incham e desincham
Como as marcas do rosto
Cicatrizes de tanta coisa
Boa ou má
Correm neste trilho novo e velho
Inconstante e trepidante
Incerto
Que descarrilam a cada momento
E desaparecem com a morte
Neste espaço-ser que se degenera
Se extingue a cada hora
Primeiro pele, carne, pelos e cabelos
Sobram ossos
Jaz a alma
Que sobrará de nós?
Quase nada de muitos
De outros, faces, fotos, vozes
Que ecoam alguns anos em memórias
De conhecidos e estranhos
Transeuntes
Outros passageiros, figurantes
Sentados junto a nós
Em quadros que por vezes se deparam
Nossos olhos a cada arbítrio, relance
Que sobrará de nós?
Bustos, ossos, roupas, nada
Filhos, netos, bisnetos
Famílias eternas, famílias mortas
Sobrenomes, apelidos extinguidos
Modificados pelo tempo
Migalhas de cultura, de hábitos, de ser
Insignificantes fracções cronológicas
Fósseis irreconhecíveis
Pensamentos jamais repetidos
Matéria e anti-matéria
Reduzidos a um legado de pó